sexta-feira, abril 02, 2004

Preso à Liberdade de Pensar

A liberdade não existe. É uma utopia presa, ela própria, à liberdade de pensar. O pensamento procura incessantemente libertar-se do espaço físico onde se encerra: do corpo. O corpo é a prova da impossibilidade de liberdade, a sua limitação.
O Homem quer bater as asas e voar, mas não voa. Temos um corpo, temos uma necessidade, uma castração.
A falsa ideia de liberdade promove ao corpo um certo movimento, medíocre. Confere-lhe uma mobilidade que se queda na sua essência à mínima contrariedade, necessidade.
O movimento não é liberdade – é uma necessidade. O Homem para ser livre não poderia necessitar – tal é impossível. Logo, a liberdade não existe. O que existe é uma falsa ideia de. O que existe transcende-nos, é metafísico. Vivemos presos à liberdade de pensar.
Este factor, de castração, manifesta-se a nível subconsciente. Dele advêm os estados perpétuos de angústia e frustrações no Homem. Por mais que tenhamos estaremos sempre insatisfeitos, por que no fundo não temos nada, não encontramos nada – o olhar é a prova disso. Quando encontramos paramos, não é verdade? Porém, se analisarmos bem, o nosso olhar só raramente encontra, pára… isto na verdadeira acepção que é encontrar. Quando «pára», pára numa celeridade inquietante, momentânea. Se encontrássemos, no verdadeiro sentido que é encontrar, porque se justificaria a necessidade constante, expressa no desejo do olhar, de encontrar?
O próprio olhar procura-se no olhar ao olhar. Olhar e liberdade complementam-se no vazio, conferindo-o. O que é um olhar se não um procurar e em vão nada encontrar?
Talvez haja alguma razão de ser na morte. Talvez nesse estado, em que o olhar se torna estático, fixo, encontremos. Se assim for, a vida não é um encontro, serve para ele.

Luís F. Simões/Rascunho - www.subversos.blogspot.com