Ensaio sobre o agora #2
A mortalidade pode ser considerada como uma bênção (e é bom que assim seja).Se num hipotético planeta os seres dominantes (ou possuidores de um grau de inteligência destacadamente elevado) tivessem uma esperança de vida duas vezes a média actual humana, a tal estariam habituados e tal considerariam de “normal”. Por isso digo que não é a relativa (longa ou curta) duração da própria vida que está em causa, mas a sua fragilidade e (aparentemente conhecida) unicidade.
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Provavelmente caminhamos para a origem e (a vida) talvez seja um ciclo que se perpetua indefinidamente, mas isso é outro assunto.
Confesso que já me preocupei (e temi) bastante com o futuro, com o que podia ou não acontecer e que acções poderiam ou não influenciar o “destino”.
Encontro conforto ao pensar que tudo acontece porque assim tinha que ser.
Tive um acidente de carro! Se tivesse ido por outra estrada isto não acontecia…
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Várias opções poderão ser apresentadas, mas apenas uma é escolhida. Porquê? Por cada um de nós é isso mesmo: um… A opção essa… é escolhida porque simplesmente assim tinha que ser. Considero que rocei o limite entre a sanidade e a loucura na procura de uma solução (ou resposta). O que encontrei? Uma espiral infinita, um buraco negro, um fractal.
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Sendo assim o futuro existe, ainda que seja num campo abstracto ou numa virtualidade repleta de probabilidades.
A amplitude da sensação do futuro mais próximo poderá ser comparada à sensação do nano-segundo que antecede uma ideia, do ínfimo instante que antecede o acontecimento de algo.
Para (do mesmo) sentir a amplitude do passado mais próximo basta multiplicar a sensação anterior por -1.
Não sou apologista de esquecer o passado, mas sim de o ultrapassar, de aprender com ele, de criar algo novo a partir de negatividades, positividades ou neutralidades.
Do mesmo modo que não quero arriscar e afirmar que “tudo acontece por uma razão” não afirmo o contrário, apesar do quanto romântico, harmonioso e perfeito (e cineasta) soa a primeira.
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Do futuro nada é possível obter.
Do passado (poderemos dizer que) obtemos teoria e experiência.
Do presente obtemos inovação.
O presente é isso mesmo: uma dádiva, uma oferta, um presente, o que algum dia realmente possuiremos.
O melhor presente é a tranquilidade interior, a paz de espírito. E como tal se alcança? Faz-se o correcto, o que se sente que é o indicado, uma combinação de reflexo com altruísmo, uma mistura de instinto com misticismo. A aplicação e pseudo-necessidade de leis prova a existência da “obesidade intelectual” (Oitke in Mental
Obesity), pois “todos os seres do universo são capazes de distinguir o bem do mal” (K-Pax).
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Não me considero religioso nem católico ou judeu, muito menos fanático, uma vez que considero qualquer tipo de extremismo (ou absolutismo) impraticável, incoerente, inconcebível e incompatível com a natureza humana. Não garanto que exista Alguém ou Algo a “olhar” por todos nós (ainda que por vezes acho esse conceito completamente irreal e por outras não encontre melhor candidato). No entanto, o melhor “guia de vida” com que me deparei na minha (relativamente curta) vida é esse mesmo: A Bíblia. Tirando o floreado, um ou outro fanatismo e o “erro humano” da instituicionalidade religiosa, estão lá todos (ou quase) os ingredientes para o Nirvana terreno (se é que existe outro).
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Para quem deseja a imortalidade: dá (até) a vida pelo próximo e nunca morrerás.
Imagens por Rolf Horn
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