terça-feira, abril 06, 2004

O par impossível

Um exemplo manifesto do nunca.
Uma ligação incomensurável sem sítio na existência,
Sucede no quotidiano sem que os mediadores se apercebam,
Tal é a aniquilação e consequente anopsia originada pelo ramerrão.

Ele… é a nascente de energia, o foco magnético, o gigante ebúrneo.
Ela… arrebata e aconselha os filhos de ninguém, os perturbados.
Por ele, ela assoma e desaparece,
Por ele, ela é criada e devorada,
Constantemente, ela nasce e perece.Numa ternura proibida, os contrários fitam-se entre si e desalentam-se por
um encontro.
A confiança no fim é, apesar de adulterado, o único regalo por eles encontrado.
No seio da cristalina impossibilidade floresce assim uma fantasia perpétua.

Trocam-se ternuras, afagos, olhares, índoles, saudades… vontades…
Cultiva-se o bem-querer inconsciente, irresponsável, incessante.
A tormenta espalha-se.
À semelhança de uma estrela de neutrões, difundem a ânsia pelo seu contorno, ainda que subtil às vistas e aos intelectos reclusos, aos atordoados.
A química torna-se assim no combustível e a ânsia a decisiva centelha, centelha que demora, centelha impossível.
A origem do ânimo do suspiro é a mesma que maltrata e humilha os enamorados.
O lume, a vitalidade de um…

O fresco, o abrigo de outro…
Dois amantes, milhões de espectadores e um amor que jamais será consumado.
No escurecimento os dois amantes desocupam o palco da sua narrativa desmedida.
Pela sua vez, milhares de amantes despertam até o negro pleno abranger o firmamento.

Amparados pelo afastamento do gigante e ignorados graças à apatia humana, o acto central vê-se comutado por excessivas demandas pelo irrealizável.
O devaneio que não desocupa o corpóreo e que estilhaça a razão.
O sentimento que mais importa, o alicerce do portentoso.
A constatação da genuína possessão, o todo… que jamais virá…